O ato de escrever é prazer, diversão. É a sensação de poder, de domínio. Criar gente, fabricar fantasias, inventar cidades, dar vida e dar morte, criar um terremoto ou furacão, fazer o que eu quiser. Escrever é um jogo, brincadeira. Conseguir segurar, prender uma pessoa, mantê-la atrelada a si (é o leitor diante do livro: sua sensação divina).
(Ignácio de Loyola Brandão).
(Ignácio de Loyola Brandão).
Narração
Santinho
Luís Fernando Veríssimo
Me lembro com clareza de todas as minhas professoras, mas me lembro de uma em
particular. Ela se chamava Dona Ilka. Curioso: por que escrevi .Dona Ilka. e não Ilka? Talvez por medo de que ela se materializasse aqui ao meu lado e exigisse o .Dona., onde se viu tratar professora pelo primeiro nome, menino? No meu tempo ainda não se usava o .tia.. Elas podiam ser boas, até maternais, mas decididamente não eram nossas tias. A Dona Ilka não era maternal. Era uma mulher pequena com um perfil de passarinho. Um pequeno passarinho louro. E uma fera.
Eu era um aluno .bem-comportado.. Era um vagabundo, não aprendia nada, vivia distraído. Mas comportamento, 10. Por isso até hoje faço verdadeiras faxinas na memória, procurando embaixo de tudo e em todos os nichos a razão de ter sido, um dia, castigado pela Dona Ilka. Alguma eu devo ter feito, mas não consigo lembrar o quê. O fato é que fui posto de castigo, que consistia em ficar em pé num canto da sala, com a cara virada para a parede (isso tudo, já dá para ver, foi mais ou menos lá pela Idade Média) mas o que eu nunca esqueci foi Dona Ilka ter me chamado de .santinho do pau oco..
Ser bem-comportado em aula não era decisão minha nem era nada de que me orgulhasse.
Era só o meu temperamento. Mas a frase terrível de dona Ilka sugeria que a minha boa conduta era uma simulação. Eu era um falso. Um santo falsificado! Depois disso, o imaginário com perfil de professora pousou no meu ombro e me chamou de fingido. Os santinhos do pau oco passam a vida se questionando. (...)
Construa um texto narrativo em que a personagem, como Veríssimo, tenha sido vítima de uma injustiça. Obedeça às seguintes indicações:
a) espaço: a sala de aula;
b) tempo: cronológico;
c) foco narrativo: 1ª. pessoa.
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